quarta-feira, 11 de agosto de 2010



Então, andei pensando sobre nós... Quer, dizer, sobre mim e você separadamente e nas vezes em que pelo acaso – só ele mesmo, ou o que mais explicaria isso? – estivemos juntos. Porque eu e você nunca fomos nós. Sem essa de primeira pessoa do plural. Somos, quer dizer, eu sou e você é, cada um modernamente na sua, primeira pessoa do singular, lembra? Eu daqui, você daí e a vida é tão boa assim. Mudar para quê, não é mesmo? Diga que sim.

Calma, ninguém aqui está discutindo relação, pois nós bem sabemos, digo, eu sei e você sabe não existe relação a discutir. Existe algo, entretanto, que precisa chegar ao fim antes que tenha início mais desse algo que de alguma forma passou a existir, mas que também não é nada, entende?

Porque mais fácil, infinitamente mais fácil, do que realmente começar algo - que pode dar certo, mas, eu sei e você sabe, vai dar errado – é terminar tudo logo de uma vez. Eu disse tudo? Na verdade, eu quis dizer nada.

Nada de devolver aquele moletom velho que você não deixou lá em casa. Nada de ter que te receber num final de tarde melancólico com você trazendo aqueles meus dois livros e três filmes que eu por acaso pudesse ter te emprestado. Nada de ter que desconstruir intimidades. Nada de ver meu cachorro amuado num canto sentido falta de suas brincadeiras. Nada de ficar me remoendo ao ver velhas fotos e ler antigas correspondências. Nada de querer te guardar numa caixa no fundo do armário. Nada de sentir saudade de você ocupando minhas tardes vazias. Nem as noites frias, nem os dias quentes.

Porque nada é nada. E ponto.
Até poderia ser tudo, se, porventura, deixasse meu medo para correr risco no seu mundo, e vice-versa. Se atrevêssemos, assim mesmo na primeira pessoa do plural, a ser livres não quando estamos sós, mas, sobretudo, estando juntos. Quem sabe um salto duplo de pára-quedas?

Mas, não. Isso causa vertigem e tanto eu, quanto você resolvemos, donos absolutos de nós mesmos, deixar emoções fortes ‘para quando...’. Até quando? Não sei; você tampouco. E ficamos, digo, eu fico e você fica assim:
o que poderia ser o começo de tudo é apenas o fim de nada.

A gente se vê.


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